Mas vamos ao que interessa. A carta é aparentemente simples, mas, quando olhada ao pormenor, torna-se complexa e bem organizada. Cada prato surge com o nome da proteína dominante em destaque e só depois aparece a descrição dos vários ingredientes que o compõem.
A conversa já leva cinco parágrafos e ainda não lhe dissemos o que comemos. Ora então, para entradas provámos a Trilogia de Ostras (7€), uma de caviar limão, outra de sabayon de champagne e pimenta rosa e a última panada com maionese de estragão. A chef recomenda que a sequência seja esta. Para nós, a melhor é a segunda, mas o conjunto é perfeito.
Ainda no prólogo, optámos pela abóbora (6€), que é a junção de ramen de abóbora assada e ovo, malagueta vermelha, sementes de sésamo, coentros, tomate cherry, noodles de ovo, lima, tapioca frita e pickle de cebola roxa. O paladar intenso, mas equilibrado, é pautado pela acidez da lima que eleva o prato. Os noodles vêm al dente e entrelaçam em harmonia com o crocante do sésamo e da cebola.
Na carta há também Choco (7€), Codorniz (6€) e Salada (3€).
No capítulo do prato principal, escolhemos Porco (14€) e Frango (14€). O primeiro traz um lombelo e barriga de porco, croquete de pernil, chips (viciantes) de inhame, com batata doce, mandioca, puré de cenoura, chalota braseada e couve pak choi. A apresentação é artística e o sabor incomparável.
O segundo, cheio de criatividade e irreverência, é composto por peito de frango, polenta, pipocas, crumble de milho roxo, milho braseado e sponge cake de milho. Vale mesmo a pena. Nunca comeu nada assim, é garantido!
A ementa vai mudar consoante a época do ano. A chef quer os melhores produtos de cada estação. “A ideia é juntar os sabores locais e da época com uma honestidade total para com os nossos clientes. Temperar com uma pitada de serra e mar q.b., adicionar um pouco de mundo e misturar tudo muito bem, recorrendo às mais modernas técnicas de cozinha. Mais do que casa cheia, queremos os clientes mais felizes!”, disse Rita Neto nesta entrevista ao InspireSetubal.
Nesta altura, pode também encontrar na carta Angus (150gr por 18€ ou 200gr por 22€), Tofu (10€) e, nos peixes, Bacalhau (13€), Camarão Tigre (20€), Cantaril (15€) e Caldeirada (12€) que foi para a mesa ao lado, mas deixou no ar um aroma absolutamente celestial.
Os mais pequenos têm um menu especial com sopa de legumes (1,5€), peixe ou carne (5€) e fruta ou gelado, de sobremesa (2€).
Os pratos são servidos com um requinte ímpar, pautados pela fusão da cozinha internacional. São perceptíveis as influências que a chef bebeu na sua experiência enquanto estudante da escola de alta cozinha de Madrid, Le Cordon Bleu, e quando esteve na cozinha do chef Rui Paula.
A história já vai adiantada e há que colocar um ponto final. Queijo e Laranja foram os eleitos para as sobremesas, a 5€ cada.
O cappuccino de queijo com laranja amarga tem também compota de amora, geleia de pêra, uvas maceradas e craquelin de amêndoa. É a desconstrução do queijo com compotas em cinco colheres metálicas, sobre uma tábua de madeira, e um frasco de vidro que guarda o cappucino.
É uma pequena obra de arte. Respeite a sequência sugerida, do mais ácido (laranja) para o mais doce (amêndoa).
Menos doce é a panna cotta de iogurte grego e baunilha, suspiro de pimenta rosa, cremoso de pimento, cremoso de laranja e cocktail de triple sec com abóbora confitada. É uma sobremesa suave, a dois tempos. Primeiro, um cocktail com uma abóbora confitada, que lembra uma azeitona, e depois, o saborear da panna cota, suave, em contraste com o crocante do suspiro que deve envolver, ora no cremoso de pimento, ora no de laranja.
Se preferir outros sabores, poderá também escolher o Chocolate ou Pêra.
Há pequenos pontos, em certos contos, que nos encantam. E, uma coisa é certa, esta Xtoria não acaba aqui.