parallax background

À vontade do freguês

7th November 2018
Pao da Lagoinha Featured
Pão da Lagoinha tradição em forno de lenha
6th November 2018
Na rua com arte
8th November 2018
Publicidade
Vertigem MREC #2
 

Assim que passamos a ombreira da porta da Mercearia Confiança do Troino, na Praça Machado dos Santos, em Setúbal, sentimo-nos a entrar num filme português dos anos 30.


Até parece que conseguimos ouvir Vasco Santana a entoar: “Ó Evaristo, tens cá disto?”, a frase dita e repetida a António Silva, que fazia de merceeiro, no filme Pátio das Cantigas.

Outros tempos, é verdade. Anos em que as mercearias tinham um “contrato” com os seus fregueses, vendiam fiado e sabiam o quê e que quantidades se gastava em cada casa das redondezas. Era assim no típico bairro da Fonte Nova, em Setúbal.

Foi em 1926 que César Figueiredo da Silva, nascido numa aldeia do distrito de Castelo Branco de onde saiu cedo com os irmãos, fundou a Mercearia Confiança do Troino. Em lugar de destaque, a mítica balança que pesava a conta que haveria de sair da magistral registadora e, depois, grande parte das vezes, anotada no livro. As vitrines encheram-se de produtos populares na época, desde os sabonetes de alfazema, Pasta Medicinal Couto, passando pelos chocolates Regina. Feijão e grão eram vendidos a granel com medidas de madeira. Estava lá tudo para servir a freguesia.

Estava lá tudo e ainda está, mas agora não é para vender nem que seja a pagar adiantado.

 

Com o passar dos anos, o negócio perdeu viabilidade e deu lugar a um espaço de História e aprendizagem. Eduardo Silva, filho de César, é hoje o proprietário. Investiu na recuperação da loja e propôs uma parceria ao Município de Setúbal. Juntos (re)abriram ao público a distinta mercearia histórica e pedagógica, em 2015.


É uma lição de História e uma viagem ao passado, esta mercearia. Mas é também uma montra de produtos da região e um local onde se realizam eventos culturais.


Aqui o bacalhau já não se embrulha em papel de merceeiro, nem ninguém traz o lápis de carvão atrás da orelha, mas pode beber um sumo natural e saborear uma tosta. Dentro, enquanto admira as relíquias de outros tempos, ou fora, na esplanada. É à vontade do freguês.