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Bolacha portugueza, com certeza!

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Esta é a história de um produto tão português que podia já estar desaparecido, aliás esteve quase a integrar o espólio de um museu. Ao invés disso, está a fazer as delícias dos setubalenses e a perfumar a Baixa com aroma de canela.


Falamos dos barquilhos. Se tem menos de 50 anos vai precisar de um “tradutor”: são doces, estaladiços, parecidos com a “língua da sogra” ou a bolacha americana.

Eram apregoadas nas ruas de Setúbal pelos barquilheiros, alguns que carregavam às costas uma lata cilíndrica com uma roleta na tampa que ditava o número de bolachas a entregar ao cliente, a maioria crianças, em troca de umas moedas. Já poucos se lembram. Mas Filomena Vargas não esquece. Nunca conseguiu esquecer o cheiro, o sabor e a emoção que era pedir um barquilho no tempo da sua infância. Chegou a procurar a receita original num bairro de pescadores em Sines.

 
 

Um dia, há mais de uma década, cruzou-se com Idalécio, um vendedor de castanhas que tinha sido barquilheiro e estava prestes a entregar a receita, secular e secreta, ao Museu do Trabalho Michel Giacometti.


Não podia ser. Os barquilhos não podiam desaparecer assim, pensou Filomena. Combinaram encontrar-se mais tarde. “Nessa mesma noite uma chapa articulada, a receita da bolacha e o seu respetivo segredo, passaram para as minhas mãos”, revela.


Jurou, com paixão, que voltaria a cheirar a canela na Baixa. Quando se reformou decidiu, com o marido, Jorge Prazeres, abrir a loja Bolacha Portugueza, na rua Dr.ª Paula Borba. Abriu portas há um ano. É aí que durante a madrugada são produzidos centenas de barquilhos, artesanalmente, enrolados à mão, um a um, para ganharem a forma de canudos crocantes.

Há a bolacha original, cuja receita remontará ao início do cristianismo e que deriva do pão divino (pão de anjo) que era distribuída aos fiéis nas igrejas (não admira que sejam divinais), a de coco (a mais estaladiça), a de laranja e também as de moscatel, especiarias e limão. A unidade é vendida a 1€ e a caixa de seis a 5€.

 

Nestes dias mais frios, há chocolate quente, sem leite e pouco doce, o par ideal para os barquilhos. “Se arrefecer um pouco fica imediatamente mais espesso”, explica Jorge Prazeres, contando que no verão há gelados artesanais “deliciosos”.

Há também doces produzidos pelos vizinhos “Cegas Tradições”, um ateliê de doçaria localizado na rua Arronches Junqueiro, junto à Porta de São Sebastião.

A loja é pequena, mas elegante e também ela muito portuguesa. O chão é de mosaico hidráulico pintado à mão em Estremoz, por um profissional que aprendeu a técnica numa fábrica de Setúbal. Numa das paredes está um mapa-mundo em cortiça onde há alfinetes com bandeiras das diferentes nacionalidades já conquistadas pelos barquilhos. Só a venda de uma caixa de seis dá direito a presença no quadro.

Com a volta que Filomena e Jorge deram à história, talvez esta tradição antiga nunca venha a ser apenas uma memória de museu, mas pelo sim pelo não, o melhor é aproveitar a Bolacha Portugueza, com certeza!