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Cátia Oliveira
“a garota não”

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Cátia Henrique Oliveira trabalha na Divisão de Juventude da autarquia setubalense mas, tendo desde sempre presente o gosto pela música, lançou em abril o seu primeiro trabalho enquanto “a garota não”.


Amores e desamores. Dedicatórias e mensagens de intervenção. Histórias e sonhos. Entre estes duos e combinações do talento setubalense, que nasceu e cresceu no Bairro 2 de Abril, chegamos para ficar à “Rua das Marimbas”, o álbum com que se apresenta e que pode ser apenas um “cheirinho” para o que ainda há de vir.

Setúbal é a sua cidade e é junto ao rio Sado que costuma parar, para pensar e também para ganhar inspiração, fazendo-se sempre acompanhar pelo seu amigo de quatro patas: o Ben. Formada em Comunicação e Cultura, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aprendeu piano na escola “A Lira”, na Praça do Brasil, mas foi a amiga Solange que a fez despertar para a composição e para a aprendizagem da viola.

 
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Desde os 16 anos que escreve canções. Compõe canções para fadistas e chegou a tocar em vários locais. Aos 35, decide mostrar ao mundo o que lhe vai na alma. Apresentado oficialmente em Abril, no Convento de São Paulo, o álbum que estreia Cátia Oliveira em nome próprio inclui os temas “No dia do teu casamento”, “A morte não sabe contar”, “Mundo do avesso”, “A canção”, “80.nada”, “Carta aberta a um amor ausente”, “Não choro mais” e “Adamastor” e pode ser comprado na livraria Universo, situada em plena baixa comercial de Setúbal, ou nas plataformas digitais, como o iTunes e o Spotify, onde pode ainda ouvir a canção bónus “Monstro”.

É, assim, na Rua das Marimbas que “a garota não” apresenta as suas primeiras canções de amor mas também de intervenção. À conversa com o InspireSetubal, Cátia Oliveira fala sobre o projecto, o amor à música, à vida e como não podia deixar de ser… à cidade de Setúbal.

Perfil
Nome: Cátia Henrique Oliveira
Idade: 35 anos
Local de nascimento: Setúbal
Prato preferido: Não tenho um prato favorito. Adoro a comida de quem cozinha com amor.
Bebida preferida: A que matar a sede e a vontade do momento. É essa a preferida.
Banda preferida: Não consigo dizer uma. Adoro Fausto Bordalo Dias, Neil Young, Bonga, Chico Buarque, Vinicius, Beatles, Nina. Adoro música que me faça sentir alguma coisa. E isso não precisa de ter um nome. Acontece-me com Um Corpo Estranho, com o Tio Rex, com o Xoto, com os Loosense, com o fado da Sandra Correia, com a Márcia, com o Criolo… com quem tira a música das veias e a partilha com o mundo.
Objetivo de vida: Chegar lá, àquele que a gente sabe que é o último dia, e ter a certeza de que a minha vida não foi em vão. Que fiz bem a alguém, que amei e cuidei muito, que soube ser fiel à minha consciência e ao meu coração.
 
 
De onde surge a paixão pela música?

Sempre vivi rodeada de música: no carro dos meus pais, no rádio de casa, no prédio onde nasci e cresci, no meu bairro os vizinhos ouviam música alta, que atravessava paredes, patamares, andares inteiros. As mulheres da minha família também sempre tiveram o hábito de cantar. Talvez porque ajudasse a tornar a vida mais leve. E todas cantavam bem: a minha mãe, avó, tia. Lembro-me de cantar também na escola primária, em actividades de turma… e adorava. Ia para casa e cantava essas canções em loop. Essas e outras que fui aprendendo aqui e ali, e depois gravava as minhas versões por cima das cassetes dos meus pais. Estraguei várias… Por essa altura, aprendi também piano na Lira, a escola de música. O meu pai nunca me deu ténis de marca, mas gastava o que podia com a minha formação, e com a do meu irmão. Tive sorte nos pais que me calharam. A maior das sortes. E com os irmãos também. O meu irmão foi uma verdadeira escola musical de irmão mais velho.


Primeiro álbum comprado?

“Dizzy up the girl” dos Goo Goo Dolls.


Como surgiu a ideia para este teu projeto?

Não surge como uma ideia… aconteceu, simplesmente. Escrevo canções desde os 16 anos, componho para vários fadistas - que é uma coisa que adoro fazer - e ter um álbum em “nome próprio” aconteceu com toda a naturalidade. Tive todo o tempo do mundo até chegar aqui e achar que estava pronto e que eu estava pronta também.

 
 
Porquê o nome "a garota não"?

“a garota não” é uma afirmação de estado de alma. É assumir o direito e a responsabilidade de sermos o que sentimos, de sermos aquilo em que acreditamos independentemente do que nos dizem as convenções, ou o conjunto de valores em que nascemos envolvidos. A liberdade é o mais difícil exercício de fazer cumprir. Porque exige o nosso respeito em todas as frentes: por nós próprios e pelo outro. A garota não é uma forma de me propor a esse exercício.


Que mensagem pretendes passar nas tuas letras e músicas?

A música pode ser um veículo de entretenimento e de reflexão. Respeito quem o faz apenas pelo gozo da primeira entrada. Mas, talvez porque cresci a ouvir Zeca, Bob Bylan, Joan Baez, Sérgio Godinho, a música para mim deve ter um papel de intervenção na comunidade. Porque tem uma força incrível. Não há razão para que em Portugal a música de intervenção esteja posta na prateleira da luta antifascista. Vivemos (ou não) em democracia há 45 anos, o país fez o seu caminho, mas continuamos com muitas lutas por ganhar… a nível humano, de justiça, concretização efetiva de liberdade… e eu não tenho a fantasia de curar os males do mundo com as canções que vou escrevendo, mas sufoca-me ver noticiários, ouvir comentadores, sair à rua e assistir à vida que corre e deitar a cabeça na almofada sem ter feito nada. Os esquemas e regalias dos nossos políticos são uma vergonha, as quedas dos bancos foram uma vergonha. O sistema dos recibos verdes é uma vergonha. A nossa noção atual de desenvolvimento económico e social é insustentável… A forma que encontro para lidar com a angústia que às vezes sinto é escrever sobre essas coisas. E cantá-las. Se o amor é bom? Que se cante. E quando dói? Cante-se também.


As músicas cantadas e assinadas por “a garota não” têm, nas palavras da própria, “uma componente catártica de curar as dores de amor, perdas de familiares e amigos e de expurgar o que vai na alma”.

 
 
E como tem sido o feedback ao facto de cantares amores e dores também?

Tem sido curioso. Nunca tinha pensado como seria entrar num restaurante e alguém nos abordar a dizer que adora as nossas canções. Alguém que nunca vimos antes e que tem o movimento de encorajar alguma coisa em nós com uma palavra boa. Lancei as canções nas redes sociais e de repente havia centenas de partilhas de amigos e de outras pessoas completamente anónimas. Sem nenhuma máquina de propaganda por trás, sem a indústria da música e os seus obreiros a declarar “oiça-se que é bom”.

 

“Os meus obreiros maiores foram os meus amigos. Pela forma como acolheram, impulsionaram, acarinharam este álbum. É amor.”


Próximo concerto?

Várias datas quase a sair.


E para quando o segundo álbum?

Para breve. Há muita música pronta para entrar em estúdio… preciso só de sentir que é o momento certo. Está mesmo aí.


Como é um final de tarde perfeito?

Um lugar onde possa combinar-se uma garrafa de vinho branco, um pôr do sol e as pessoas que nos fazem bem. E muito riso, pouca conversa séria.


Um segredo da cidade?

O Sérgio Mendes. É um talento absurdo como músico e produtor guardado a sete chaves no bairro de Troino. E um amigo à prova de bala.


Setúbal numa palavra?

Sado.

 
Fotografias e artigo escrito por Inspire Culture Lover